Vitória, meu amor": rei no Barradão, Tatau lembra começo no "xaréu"
Nêêêêgooo! Nêêêgooo! Vitória, meu amor! Nêêêêêgooo, Vitória, meu amor!
Quando esse uníssono grito ecoa no Barradão, não há viva alma rubro-negra que fique parada. A versão da música "Bom demais" diz, antes do potente refrão, que “não dá pra esconder o que eu sinto por você, Vitória”. E para o autor da canção original, o rubro-negro Tatau, a apropriação da letra pouco importa. Afinal, o clube é uma das suas paixões preferidas.
Estrela do axé music, ritmo que completa 30 anos em 2015, Tatau considera uma honra ouvir o hit que criou ser cantado como um mantra em praticamente todos os jogos do Vitória. Conhecida em todo o país com as estrofes de “Não dá pra esconder, o que eu sinto por você, Ara. Não dá, não dá, não dá. [...] Só sei que o Araketu é bom demais”, a versão da torcida tem o poder de emocionar o cantor e compositor rubro-negro, que é nascido no Tororó, bairro de Salvador vizinho à Fonte Nova.
- Fico emocionado. Sento um pouco do lado da torcida (organizada que puxa o coro). Não pela música, mas porque gosto de estar próximo da movimentação e ver verdadeiramente como funciona o torcedor, cada um do seu jeito, do seu tipo, sua forma de torcer. Acho muito bacana, muito especial. Vejo que essa música não foi abraçada apenas pelo Vitória como símbolo, não é hino, mas símbolo, mas outras torcidas, em outros estados, também começam a cantar. Fico emocionado. É a realização de qualquer compositor. Ver sua música rodar. Me sinto feliz da vida por esse feito, dar ao Vitória essa marca que é deles – disse o cantor ao GloboEsporte.com.
A homenagem foi “paga” também em forma de música. Compositor dos mais gravados no axé – e em outros ritmos pelo Brasil – Tatau compôs uma música para homenagear o Vitória.
- Já tinha a música pronta. Falei com a diretoria, e o Vitória tinha um disco com a participação de vários artistas torcedores. A letra é algo que vem da história do clube. Tento sintetizar na letra verdadeiramente o que é o Vitória, como clube e como time – disse antes de entoar os versos para o GloboEsporte.com.
- Vitória, um clube forte competente, um centenário um passo à frente, deixa exaltada a multidão, mais uma vez é campeão. Se esse foi o destino que selaram pra mim, pois ser Vitória é ter fé até o fim, é ser rubro-negro. Vitória é um passado na história com pé no futuro, Vitória cem anos de história em enche de orgulho. Tu és um leão destemido ninguém pode contestar. Balança as redes rubro-negro, vamos lá.
Xaréu, Ricky e rivalidade
Presença constante e ilustre no Barradão, Tatau tem lugar cativo no coração dos rubro-negros desde o momento em que chega ao estádio. Pelas ruas do bairro de Canabrava, o cantor é saudado e responde com carinho de dentro de seu conversível a cada afago vindo da torcida.
- É bacana. O torcedor é especial, é fã também, se aproxima, pede para tirar foto, autógrafo, para cantar. Quando a gente se propõe a ir para local público, tem que estar simplesmente de coração aberto para receber as pessoas. Essa relação com o Vitória é de torcedor. Não é o artista que está ali sentado. Sou um torcedor naquele momento, como todos são – disse.
A paixão pelo Rubro-Negro começou cedo. O ainda menino Tatau viu aflorar sua paixão pelo Vitória graças ao pai. Além disso, ajudou o fato de o cantor ser vizinho da Fonte Nova, que, até os anos 90, era, além de casa do Bahia, também lar do Vitória.
- Comecei a torcer pelo Vitória desde pequeno. Meu pai, nascido aqui no Tororó, que é pertinho da Fonte Nova, sempre me levava nos jogos. Aí a paixão começou a crescer, e virei fanático. Sou torcedor consciente. Minha relação com o Vitória tem muito coração, muita gana, muita vontade. É algo especial. Registro sempre essa relação, é algo diferente. O Vitória me traz sensações muito bacanas. Fico feliz cada vez que vou às partidas, cada vez que vejo meu time jogar – lembrou ao GloboEsporte.com.
Mas os primeiros passos de Tatau como torcedor do Vitória foram no “xaréu”, como é chamado na Bahia o ato em que torcedores entram gratuitamente nos jogos nos minutos finais, após a abertura dos portões para a saída dos pagantes. A prática era muito comum na antiga Fonte Nova. Torcedores mais humildes, atrasados, curiosos, todos esperavam o momento da abertura dos portões da velha Fonte para entrar no estádio. Com o menino Tatau não foi diferente. Embalado pelos gols do nigeriano Ricky, ídolo do Vitória nos anos 80, cada xaréu era uma festa.
- Eu morava aqui, toda vez ficava no xaréu. Eu era o cara do xaréu. Não tinha dinheiro. Era duro, liso, liso. Faltando 15 minutos para terminar as partidas, abria o xaréu. O portão da Ladeira das Pedras. Era muito divertido. Acontecia um monte de gols no final. Morava no Tororó. Entrava no estádio, curtia, era muito gostoso. Eu era do xaréu. Total felicidade – disse.
Entre uma lembrança e outra, Tatau lembra um jogo inesquecível na sua saga de adoração ao Vitória. Numa partida contra o Botafogo-BA, o nigeriano Ricky ficou caído após uma disputa com o goleiro do Mais Simpático. No entanto, o arqueiro saiu jogando em cima do atacante, que, mesmo caído, cabeceou a bola para o fundo das redes, marcando um gol antológico para os rubro-negros.
- Esse é um jogo inesquecível para mim. O goleiro chutou, o Ricky estava no chão, a bola bateu nele e entrou. Achei aquilo diferente no mundo do futebol. Imagem que guardo até hoje, por ser algo inusitado – lembra Tatau.
O tempo passou e Tatau deixou de ser do xaréu da Fonte Nova para ser celebridade no Barradão. Não foram poucas as vezes em que o artista cantou para a torcida rubro-negra no estádio ou do lado de fora, nas festas dos títulos. Em uma delas, o cantor esteve ao lado da amiga Ivete Sangalo.
- Fizemos uma festa linda. Me senti super feliz de ter sido convidado pela diretoria do Vitória para fazer parte dessa festa do título - disse.
Como não poderia deixar de ser, a paixão de Tatau pelo Vitória também passa pela rivalidade com o Bahia e os amigos tricolores. Um dos preferidos é Manno Goés, que considera Tatau como melhor “vítima” para as brincadeiras.
- O Manno é assim comigo, o Ricardo Chaves, Luiz Caldas. Uma turma que é torcedora do Bahia me procura para tirar sarro. É gostoso. É sadio. Futebol tem que ser isso. Tem que ser essa relação. Essa coisa de um amigo ligar para o outro é especial. Futebol, essa rivalidade que existe, sadia, gostosa, funciona desse jeito. Também abuso eles. Quando a gente se cruza, principalmente quando o Vitória ganha, dou minha "perturbadinha". É legal – disse.
E assim, com paixão, música e axé, Tatau é mais um entre tantos rubro-negros apaixonados, mas com gabarito para afirmar a plenos pulmões “que ser Vitória é bom demais”.
Autor: ,postado em 16/02/2015
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