Caio Jr. culpa árbitro por Copa do NE e dispara: 'Não há respeito aos profi
Sete de dezembro de 2012. Após duas semanas de negociações que envolveram vários nomes, o Vitória finalmente fechava com um novo técnico para a temporada 2013. E o treinador escolhido sequer havia pisado os pés na Toca do Leão, mas já começava a ser visto com desconfiança pelo torcedor. Sem títulos de expressão no futebol brasileiro, Caio Junior assumia o Leão da Barra justamente no ano do retorno à Série A. Foram necessários quase seis meses de muito trabalho e equilíbrio, entre a ameaça de demissão e a conquista do Campeonato Baiano, para que os torcedores deixassem de ter ‘um pé atrás’ e passassem a ver o treinador como um dos principais responsáveis pelo time que aumentou o orgulho de ser rubro-negro.
Para comandar o Vitória, Caio Junior abdicou de ficar com a família nos Estados Unidos. Três meses antes de fechar contrato com o Rubro-Negro, o técnico pediu demissão do Bahia para acompanhar o filho, que iria estudar fora do país. Segundo o treinador, o lado financeiro não pesou no acerto com o Leão da Barra. O que o atraiu mesmo na equipe baiana foi a oportunidade de iniciar um trabalho em um time que tinha como objetivo fazer uma grande campanha no Campeonato Brasileiro.
- Aceitei trabalhar no Vitória por conhecer a estrutura do clube, o nível e as condições de trabalho, e por ser o último clube da Série A sem treinador. O convite foi feito no final do ano passado, e isso balançou muito minha cabeça. Vi que a chance de disputar o Brasileiro deste ano estava ali – declarou Caio Junior, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM.
O começo no clube oscilou entre altos e baixos. Caio Junior conseguiu levar para o Vitória a maioria dos jogadores que queria para a temporada, mas foi eliminado precocemente da Copa do Nordeste. Com a saída da competição regional, o elenco rubro-negro passou quase um mês sem jogos oficiais, período que, de início, foi avaliado de forma negativa, mas que hoje o técnico considera essencial para o bom futebol apresentado pela equipe baiana.
- Com a eliminação, eu tive a oportunidade de treinar, organizar a equipe. Conseguimos conquistar o título estadual muito por causa desse tempo em que pude dar uma identidade para o time – comentou.
Após o período exclusivo para treinos, o Vitória deslanchou. Aplicou duas goleadas históricas no Bahia, uma delas na inauguração da Arena Fonte Nova. Mas nem tudo foi motivo de sorrisos na Toca do Leão. No meio do caminho, o time perdeu para o Mixto em Cuiabá, situação que por pouco não provocou a demissão de Caio Junior.
Caio Junior acumula 70 vitórias em 156 partidas ao
redor do mundo (Foto: Thiago Pereira)
Em meio a várias especulações, o treinador se manteve no cargo e, na sequência, conquistou o Campeonato Baiano, primeiro título de expressão no futebol brasileiro. Logo em seguida, foi eliminado da Copa do Brasil após um empate com o Salgueiro na Fonte Nova. A desclassificação mais dolorida, contudo, continuava sendo a da Copa do Nordeste, principalmente por conta da atuação do árbitro pernambucano Gilberto Rodrigues Castro Junior.
- A campanha foi ótima e perdemos um jogo em que o árbitro teve participação decisiva e tirou nossa possibilidade de conseguir o título – afirmou o técnico rubro-negro.
Após a decepção na Copa do Brasil, uma nova chance de se redimir perante a torcida e provar que toda a desconfiança do final do ano passado não passava de bobagem. A Série A virou a ‘menina dos olhos’ de Caio Junior. O técnico não cansa de repetir que pode fazer no Rubro-Negro o que fez no Paraná em 2006, quando classificou a equipe tricolor para a Copa Libertadores da América. E o início da competição nacional parece promissor. Com quatro pontos conquistados, o Rubro-Negro é o terceiro colocado na tabela de classificação.
Além do bom início de Campeonato Brasileiro, Caio Junior se apoia nos números para garantir o otimismo do torcedor do Vitória. O treinador possui no currículo 156 partidas disputadas por cinco clubes diferentes na elite do futebol nacional. O retrospecto é amplamente favorável: foram 70 vitórias, 37 empates e 49 derrotas, além de 231 gols a favor e 193 contra.
- O Campeonato Brasileiro é um dos mais disputados do mundo. O importante é ter uma equipe competitiva que possa disputar pontos a cada jogo – explica.
Confira uma entrevista exclusiva concedida pelo técnico rubro-negro ao GLOBOESPORTE.COM. Entre os assuntos abordados, contratações, a melhor e pior partida do Vitória no ano, a utilização das categorias de base e as apostas para o título da Série A e para os quatro rebaixados para a Série B.
GLOBOESPORTE.COM - Você chegou ao Vitória após deixar o Bahia para acompanhar seu filho, que ia estudar nos EUA. Como foi a decisão de voltar a trabalhar e treinando o principal rival do seu último clube?
Caio Junior - Primeiro, que eu não escolhi. Não foi uma escolha minha. Foi um convite. E convite você estuda e aceita ou não. Achei, na altura, que foi muito legal, mesmo tendo uma passagem curta pelo Bahia. Em função dos meus filhos, tomei a decisão de deixar o clube. Foi muito importante para minha família. E contribuí para que o Bahia não caísse para a Segunda Divisão. Meu trabalho teve uma contribuição importante. Aceitei trabalhar no Vitória por conhecer a estrutura do clube, o nível e as condições de trabalho, e por ser o último clube da Série A sem treinador. O convite foi feito no final do ano passado, e isso balançou muito minha cabeça. Vi que a chance de disputar o Brasileiro deste ano estava ali.
Você teve receio de sofrer rejeição da torcida por ter treinado o Bahia?
Não tive. Eu trabalho muito com a verdade. No meu grupo de trabalho e na minha casa, com meus filhos, é assim. E, quando você trabalha com a verdade, você não tem que ter medo de nada. Tive uma decisão aberta, não escondi nada. E não vejo problema nenhum. Isso foi superado.
O Vitória era apontado como um dos favoritos para conquistar a Copa do Nordeste, mas acabou eliminado pelo Ceará, no Barradão (assista ao vídeo ao lado). Como você encarou a saída precoce da competição regional?
Se pegar a escalação do Vitória na Copa do Nordeste, vai ver que é bem diferente da de hoje. A equipe estava em formação. Testei muitos jogadores, e tinha que ser assim. Era uma competição para isso. Mas óbvio que com o objetivo de chegar ao título. Pagamos o preço por isso. Se for ver a classificação da Copa do Nordeste, fizemos a melhor campanha da primeira fase junto com o Santa Cruz. Não tem questionamento. A campanha foi ótima, e perdemos um jogo em que o árbitro teve participação decisiva e tirou nossa possibilidade de conseguir o título. A equipe estava começando a se definir ali. O Escudero jogou contra o Ceará lá, o Cajá, o Cáceres, o Maxi, a parte central, os principais jogadores em nível de contratação começaram a jogar ali, e nós não tivemos a sequencia. Com a eliminação, eu tive a oportunidade de treinar, organizar a equipe. Conseguimos conquistar o título estadual muito por causa desse tempo em que pude dar uma identidade para o time.
Após esse jogo, houve o boato de que você poderia deixar o time...
Deve ter sido boato. Aqui não teve nada disso. Tivemos uma reunião após o jogo, e ficou bem definido que a campanha tinha sido boa. Que o jogo contra o Ceará tinha sido atípico. Não tinha nenhuma relação com tática ou técnica, e meu trabalho seguiu. Os questionamentos ao meu trabalho foram mais após a primeira partida contra o Mixto [O Vitória foi derrotado por 2 a 1 no estádio Presidente Dutra]. Um momento difícil.
No Brasil, a gente tem esse problema seríssimo. Não existe respeito aos profissionais. Faz-se um calendário como se os jogadores fossem máquinas. Tem que ganhar sempre e tem que jogar bem sempre. Nós treinadores é que temos que dar um jeito. Vínhamos de uma sequência que tinha acabado de dar 5 a 1 no Bahia, na inauguração da Arena Fonte Nova. Os jogadores estavam realmente cansados. Tivemos uma longa viagem para Cuiabá e perdemos fora de casa. Ainda teve uma derrota pelo Baiano, para o Botafogo-BA. Deu uma abalada. Depois recuperamos, e foi uma recuperação absurda, fantástica. Vencemos o Mixto e o Bahia. Foram jogos de alto nível. E aí conquistamos a confiança.
Foi fruto de um trabalho. Agora, por exemplo, conquistamos o Campeonato Baiano no domingo e, numa quarta-feira, tivemos um jogo decisivo pela Copa do Brasil. O jogador nem teve tempo de saborear o título. Uma injustiça. Recuperação muito curta. E ainda tem o lado mental. Joga na quarta-feira, um grande jogo, não consegue a classificação e dois, três dias depois, tem a estreia do Campeonato Brasileiro contra o Internacional. É muito difícil. Só quem está aqui no dia a dia é que sabe. Trabalhamos nesse período só com recuperação de jogador. Teve uma evolução grande no futebol. Mas, para o treinador, é ruim. Não pode trabalhar taticamente.
Ao mesmo tempo em que clubes brasileiros demitem os técnicos no meio da temporada, outros mantêm os treinadores no cargo por anos, como é o caso do Tite, no Corinthians, Muricy Ramalho, no Santos, e Abel Braga, no Fluminense. Você acha que existe uma tendência para que, no futuro, os times mantenham os técnicos por mais tempo?
Acho que já é uma realidade. Se analisar nos últimos seis ou sete anos, desde que o Campeonato Brasileiro passou a ser disputado em pontos corridos, quem chegou foram equipes que mantiveram seus treinadores. E não foram mantidos por fazer uma boa temporada. Uns estavam em situação complicada e depois é que chegaram. Os cinco ou seis primeiros colocados da Série A sempre são os times que repetem o trabalho. E quem tem dirigente que consegue enxergar isso, aguentar a pressão e acreditar no trabalho, consegue recuperar, fazer uma boa campanha.
O Vitória foi eliminado este ano da Copa do Nordeste e da Copa do Brasil. A saída de qual competição foi mais traumática?
A Copa do Nordeste foi mais traumática. Foram erros da arbitragem. A equipe não jogou mal. Foi um jogo absurdo, que teve uma marca do árbitro muito grande. O árbitro deveria ser mais punido no Brasil. Os treinadores são punidos, mas o árbitro não. A eliminação da Copa do Brasil foi lamentável, uma pena. Mas falei para os jogadores que eles fizeram uma excelente partida. Uma equipe que consegue 19 finalizações, quase 80% da posse de bola, em que o goleiro adversário é o melhor em campo... Não tem o que criticar. Perdemos a Copa do Brasil por dar certa prioridade ao Baiano. Naquele momento, se jogo com a equipe principal em Salgueiro, a gente poderia ter problemas contra o Bahia no Barradão. Tudo tem um preço. Tomei uma decisão e acho que foi a mais correta.
No início do seu trabalho você disse que utilizaria bastante a base. Chegou até mesmo a assistir à final da Copa do Brasil Sub-20, competição em que o Vitória foi campeão. No entanto, passados quase seis meses, foram poucos os jovens talentos que tiveram oportunidade no time titular. Houve algum problema no processo de transição da base para o profissional?
Eles estão sendo aproveitados. A análise é outra. Os principais jogadores que se destacaram no time sub-20 estão sendo utilizados. O Alan jogou várias partidas no início do ano, mas optamos por emprestá-lo para adquirir experiência. O Gabriel Soares também jogou algumas vezes, mas teve uma lesão de púbis. O Magal já jogou, o Willie teve poucas oportunidades e agora está na seleção. Da casa, temos no time titular o Mansur, que é uma realidade. Foi muito questionado, mas cresceu bastante e chegou a ser decisivo em algumas partidas. As coisas estão acontecendo. Só não dá para lançar todo mundo.
Caio Junior afirma que Vitória precisa contratar meias
(Foto: Thiago Pereira)
Você acha que já conseguiu implantar sua filosofia de trabalho no Vitória?
Acho que sim. Acho que está implantado. Os jogadores sabem como funciona a forma de a equipe jogar, quem entra e quem sai. Estou muito satisfeito com isso e muito satisfeito com a estrutura do Vitória. É uma ótima estrutura, que dá boas condições de trabalho.
Recentemente, você disse que o Vitória precisa de reforços para a disputa do Campeonato Brasileiro. Já existem prioridades de nomes ou posições no planejamento da comissão técnica e da direção?
A gente já tem uma ideia. Uma posição já declarei publicamente que é a meia. Precisamos de um ou dois jogadores para essa função. Quando a gente perde o Cajá ou o Escudero, não dá para continuar com a característica da equipe. O Vander é muito mais um meia-atacante. O Marquinhos também. O Leílson ainda não conseguiu treinar. Essa posição é a prioridade e vamos trabalhar em cima disso.
E nomes?
Temos, mas essas coisas tem que segurar. O momento agora é de muita especulação. Só durante a pausa da Copa das Confederações é que deve haver alguma definição.
São quase seis meses do Vitória. Qual a sua avaliação desse período?
Minha avaliação do semestre é positiva. Se não ganhasse o Baiano, não seria, é assim que funciona. O mais importante na nossa avaliação interna era o Campeonato Baiano. É fundamental para o torcedor ter o retorno da hegemonia estadual, estar à frente do seu principal adversário. E foi de forma histórica, contundente, marcante. Para o clube, é muito importante. Gerou uma repercussão nacional muito grande a nossa conquista. Lamentamos a Copa do Brasil e a Copa do Nordeste. Mas realmente o primeiro semestre foi ganho. E, o mais importante, conseguimos ter uma equipe competitiva, que agrada o torcedor e que dá uma expectativa boa para o Brasileiro. Não é uma certeza, mas é uma expectativa boa.
Quais foram a pior e a melhor partida do Vitória neste primeiro semestre.
A melhor partida foi o 5 a 1 na inauguração da Fonte Nova (assista aos melhores momentos no vídeo ao lado). Foi até melhor que o 7 a 3. Foi uma partida brilhante da equipe. A pior partida... Acho que duas ou três foram bem ruins. O jogo aqui contra o Juazeiro foi muito ruim. O jogo contra o Juazeirense lá também foi muito ruim, mas em função do campo. O jogo contra o Botafogo-BA na Fonte Nova também não foi bom. São jogos assim, contra equipes pequenas, que o lado motivacional, o estilo de jogo influencia bastante.
Houve alguma decepção nesse primeiro semestre?
Decepção, não. Acho que tudo faz parte do futebol. Aprendi a trabalhar da seguinte forma no futebol: eu já não crio grandes expectativas em relação ao meu trabalho e em relação ao que as pessoas pensam. A minha expectativa é normal. Agora eu me dedico 100% ao trabalho e sei da minha capacidade. E também não me decepciono demais nem fico deprimido em relação a coisas negativas. Procuro manter o meio termo.
Você sempre fala com entusiasmo do Campeonato Brasileiro e constantemente usa o Paraná de 2006 como parâmetro para o Vitória deste ano. Até onde você acha que o time baiano pode chegar na Série A 2013?
O Campeonato Brasileiro é um dos mais disputados do mundo. O importante é ter uma equipe competitiva, que possa disputar pontos a cada jogo. Essa é uma pergunta difícil. Nenhuma equipe pode responder. Ela depende de vários fatores. De gerir momentos de crise, por exemplo, que são momentos pelos quais todas as equipes passam. O Campeonato Brasileiro é muito difícil, e é complicado ter uma sequência sempre positiva. Pela competitividade, equilíbrio dos jogos. Vai depender de uma série de fatores. No Paraná, naquela altura, conseguiu-se levar o time para a Libertadores, porque, principalmente, nos momentos de crise, a direção segurou a pressão e manteve o trabalho. Acho que esse é um dos segredos do sucesso.
Depois do 7 a 3 no Bahia, você disse que o Vitória deveria jogar mais vezes na Fonte Nova e que o estádio favorecia o estilo de jogo do Rubro-Negro. Já houve algum tipo de conversa com a direção do clube para mandar mais jogos longe do Barradão?
Isso é uma questão administrativa. Dei minha opinião na parte técnica. Em nível de contrato, já temos jogos marcados para lá. Mas não é tão simples assim. Até pela Fonte Nova já ter um contrato com o Bahia. Para esse ano, talvez não dê para mexer tanto. Independente disso, o Barradão também é muito bom. O gramado é mais pesado, mas para o adversário também fica mais difícil.
Quem você acha que vai ser o campeão brasileiro de 2013?
Campeão Brasileiro? Acho que é tudo chute agora. Quem falar isso agora vai chutar em função do momento. Não apontaria ninguém. É o único campeonato do mundo em que dez equipes podem ficar com o título. Acho que se fosse falar algum estaria chutando.
E rebaixados?
Também é chute. Na teoria, todo mundo vai apontar. Eu vi a pesquisa que fizeram. Vai apontar quem tem menor orçamento, quem vem de Segunda Divisão esse tipo de coisa... Vai depender muito do primeiro turno.
Autor: ,postado em 31/05/2013
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