Uma cena marcante do documentário "Tudo ou Nada" sobre a seleção brasileira na Copa América de 2019, mostra um abraço do coordenador técnico da seleção da Venezuela, Francisco Maturana, no treinador da seleção brasileira, Tite. Maturana foi o histórico comandante da Colômbia, na Copa do Mundo de 1990 -- a primeira em que os colombianos avançaram para as oitavas-de-final -- e nos incríveis 5 x 0 sobre a Argentina em Buenos Aires, nas eliminatórias de 1993.
Segundo Tite disse no documentário, Maturana aproximou-se depois do empate por 0 x 0 entre Brasil e Venezuela, na Fonte Nova. Deu o abraço e disse em seu ouvido: "Você é a esperança do futebol da América do Sul."
Tite Sport — Foto: Brenno Costa
Depois de ver o documentário, este blog procurou o treinador colombiano em Medellín, por telefone. Maturana confirmou o diálogo e explicou por que considera Tite a maior esperança do futebol sul-americano voltar a triunfar em uma Copa do Mundo.
"Eu disse isso ao Tite do fundo do meu coração. Nós, em nossos países, sempre admiramos o futebol brasileiro. Neste momento histórico da América do Sul, perdemos muuito terreno em relação à Europa e temos que encontrar alguém que resgate os valores, a cultura do futebol sul-americano", disse Maturana.
Sempre adepto do futebol arte e do ataque, Maturana conversou com este jornalista dias antes da estreia da Colômbia na Copa do Mundo de 1994. Pelé tinha destacado os colombianos como favoritos para conquistar o Mundial dos Estados Unidos. Maturana discordou e disse que sua seleção não estava pronta para vencer.
Francisco Maturana técnico Colômbia arquivo — Foto: AFP
A entrevista foi feita antes da estreia, derrota para a Romênia por 3 x 1. O deslize seguinte contra os Estados Unidos eliminou precocemente os colombianos, mesmo com vitória sobre a Suíça no terceiro compromisso. Maturana também conduziu o Atlético Nacional, de Medellín, a seu primeiro troféu da Libertadores, em 1989.
"Hoje, na América do Sul, estamos prisioneiros do resultado. Não importa nada mais, só isso. Não importa como se conseguiu chegar até a vitória. Então, vejo o Brasil de Tite, vejo o trabalho, vejo uma boa escolha de jogadores, com ordem tática, mas não são prisioneiros desta ordem e há liberdade para a expressão da fantasia do jogador brasileiro", diz Maturana.
Uma das críticas à Colômbia, depois da derrota nos Estados Unidos, era a falta de compromisso tático de jogadores como Redín, Rincón e Valderrama. Nunca se negou o talento a esta geração, que goleou a Argentina por 5 x 0, com dois gols de Rincón, dois de Asprilla e um de Valencia. A capa da revista El Gráfico, da época, exibe a alma argentina em frangalhos, com o título: VERGUENZA (Vergonha).
"Com Tite, há compromisso coletivo para recuperar essa fantasia a partir da organização tática. No futebol, quase sempre o ganhador é quem se enamora da forma como se ganha e isto gera uma tendência. Que bom que tenhamos não somente o resultado e nos sintonizemos com a forma como se quer buscar este resultado. Esta é a minha apreciação e continuo pensando o mesmo que disse a Tite durante a Copa América. Oxalá, tudo caminhe bem", pensa Maturana.