Campeã Pan-Americana e bronze na Copa América, a seleção feminina de basquete se prepara para seu próximo desafio na caminhada rumo aos Jogos Olímpicos. Nessa quinta-feira, às 18h30 contra os Estados Unidos, o time comandado pelo técnico José Neto estreia no Pré-Olímpico das Américas, em Bahía Blanca, na Argentina. A competição dá três vagas para Pré-Olímpico Mundial, que irá determinar que seleções estarão na disputa em Tóquio 2020.
Segundo Hortência Marcari, eterna rainha do basquete brasileiro, o país tem grandes possibilidades de avançar ao Pré-Olímpico Mundial no feminino, mas terá que aprender a lidar com altos e baixos que têm tornado mais complicada a escalada rumo à Olimpíada no Japão. Independente de ajustes a serem feitos, desde o Pan de Lima a seleção tem tido a tecnologia como grande aliada nesse processo: uma ferramenta de análise de desempenho disponibilizada pelo laboratório olímpico do Comitê Olímpico Brasileiro será um dos trunfos na jornada das meninas do Brasil.
No grupo A, que tem Canadá, Cuba, República Dominicana e Porto Rico, estarão em jogo duas vagas para o Pré-Olímpico Mundial, que será disputado em fevereiro de 2020. Já no grupo B, que tem Brasil, Argentina, Colômbia e a já classificada para Tóquio seleção dos Estados Unidos, apenas uma vaga poderá ser conquistada. A seleção americana, portanto, tratará a competição como uma espécie de treino.
Pré-Olímpico feminino das Américas
GRUPO A |
GRUPO B |
CANADÁ |
ARGENTINA |
CUBA |
BRASIL |
REPÚBLICA DOMINICANA |
COLÔMBIA |
PORTO RICO |
ESTADOS UNIDOS |
Tecnologia a serviço da seleção
Através de seu laboratório voltado à ciência do esporte, o Comitê Olímpico Brasileiro disponibilizou uma ferramenta de análise de desempenho chamada Sportscode, já bastante utilizada na Europa. A responsável por capacitar a comissão técnica de José Neto em relação ao uso da ferramenta é Carolina Bastos, que lidera o setor de tecnologia esportiva e biomecânica do COB.
A seleção feminina principal começou a utilizar a ferramenta durante o Pan de Lima. Na ocasião, uma média de 40 vídeos por partida foram produzidos e disponibilizados para estudo das jogadoras, que também acessam esse conteúdo através de um aplicativo no celular. Ou seja, em cinco jogos, 200 vídeos estiveram à disposição das jogadoras.
- Hoje tudo se decide no detalhe. O alto nível se decide no detalhe. Então o detalhe não pode fazer com que a gente perca, tem que fazer com que a gente ganhe. Essa é uma ferramenta importante para que o detalhe seja uma coisa previsível pra nós. Pra que a gente esteja preparado pra enfrentar as dificuldades que o adversário pode dar pra gente. E a gente conseguir vencer no detalhe - disse José Neto, técnico da seleção feminina.
Virgil Lopez, a ponte entre o COB e as jogadoras
Dentro da comissão técnica de José Neto, o incumbido de ser a ponte entre a ferramenta e as jogadoras é Virgil Lopez, um francês que desde junho atua como assistente na seleção feminina. Para ele, a ferramenta tem sido fundamental para mapear adversários e calçar as jogadoras em relação ao que pode acontecer nas partidas.
- Eu chamo algumas meninas ou elas vêm até mim. Elas vêm aprimorar a parte técnica e melhorar também o entendimento coletivo de determinadas jogadas. O objetivo é conseguir identificar os aspectos estratégicos do adversário, por exemplo, Estados Unidos, Colômbia e Argentina, e oferecer para as meninas visão de jogadas, os movimentos ofensivos que pode fazer o adversário. Aí a gente assim se prepara bem melhor e não tem surpresa no momento do jogo - explica Virgil.
Dentro do Sportscode há uma plataforma chamada Hudl, constantemente abastecida com vídeos cortados pelo próprio Virgil Lopez, e disponibilizados para estudo através de um aplicativo. Cria-se uma 'tag' relativa a cada situação de jogo para que seja posto em evidência o que está acontecendo na estratégia do adversário.
- Todas as meninas recebem um e-mail, "você recebeu no Hudl, tal clipes do adversário". Dentro do aplicativo, elas podem assistir no tempo delas, quando elas quiserem pra poder realmente ter conhecimento do adversário. Então começa a ter um armazenamento de vídeo bastante interessante com as tendências de cada seleção. A partir daí o estudo acontece, tipo "a jogada 1 tá sendo feita trinta por cento do tempo" - detalha o assistente técnico.
Ao lado de Érika e Clarissa, Damiris Dantas se destacou na campanha do bronze na Copa América. A ala-pivô do Minnesota Lynx que também atua em um time da Coreia do Sul, chamou a responsabilidade nas partidas e impôs seu jogo tanto nas alas quanto no garrafão. Para ela, a ferramenta desenvolvida pelo COB chega para otimizar o desempenho na corrida pela vaga olímpica.
- Não tem folga, realmente são 24 horas de basquete. Eu tava na Coreia e tava recebendo, Clarissa na França recebendo, a Érika na Espanha recebendo, tá dando certo. Tem jogadora que eu não conheço, fazia tempo que não jogava contra também. E já sei tudo, pra onde ela gosta de ir, de onde a porcentagem de arremesso é maior, o que ela mais gosta de fazer. Isso facilita né? Na hora de jogar e de defender - conta Damiris.
Em relação à perspectiva de conquista da vaga para o Pré-Olímpico Mundial, a ala-pivô se mostra confiante e reforça que o foco de todo o grupo por um objetivo comum é um aspecto que só acrescenta, assim como o encorajamento transferido às meninas pelo técnico Neto.
- Acredito muito que a gente tá se preparando muito bem pra conseguir essa vaga para o Pré-Olímpico Mundial. Mas o mais gostoso desse grupo é olhar no olho e sentir "tamo junto e vamo nessa". O Neto tá passando muita confiança pra gente. Estamos treinando pra caramba. Tô confiante - finaliza Damiris.