MP's investigam suposto desvio de R$ 3,3 mi no Bahia na gestão de MGF

Marcelo Guimarães Filho deixou o Bahia após decisão judicial, mas as investigações sobre seu ‘legado’ continuam. Nesta sexta-feira, o jornal A Tarde, de Salvador, divulgou informações sobre o relatório da nova auditoria realizada no clube baiano pela empresa Performance. O GloboEsporte.com teve acesso ao documento, que ratifica o caos organizacional no departamento financeiro, apontado em relatório divulgado no ano passado. Recontratada pela gestão de Fernando Schmidt, a Performance fez uma nova devassa, desta vez no período de 1º a 9 de julho de 2013, os últimos dias de MGF como presidente tricolor. E os resultados não foram confortantes para a torcida do Bahia.
Segundo a auditoria, o clube pode ter sido lesado em cerca de R$ 3,3 milhões devido ao pagamento de serviços que não teriam sido realizados. No documento divulgado durante a intervenção, no ano passado, já havia sido apontado o desembolso de R$ 2,8 milhões em serviços sem comprovação. Na nova investigação, foi constatado o pagamento de R$ 444,2 mil a duas empresas durante os últimos dias de Marcelo Guimarães Filho à frente do clube. No entanto, não há evidências de que tais companhias tenham realizado serviços ao Bahia. Com base nos relatórios da Performance, os Ministérios Públicos Estadual e Federal investigam o suposto desvio de verbas.
EMPRESAS QUE RECEBERAM DINHEIRO NÃO SÃO ENCONTRADAS
As empresas citadas são a Dicon Contabilidade, supostamente contratada para ‘serviços voltados à auditoria fiscal’, e a Projtec, nome fantasia do empresário Rogério Novaes Santiago, contratada, de acordo com o relatório, para realização de terraplanagem e drenagem.
Segundo o documento, o contrato para realização da auditoria fiscal tinha validade indeterminada. No dia 7 de junho de 2013, foi emitida uma nota fiscal de R$ 300 mil, correspondente aos serviços supostamente prestados pela Dicon entre 2 de janeiro de 2012 e 31 de maio de 2013. A empresa ainda recebeu seis pagamentos entre 4 de junho e 5 de julho, que totalizaram valor de R$ 108,9 mil. No entanto, a Performance relata no documento que não encontrou provas da realização do serviço, após prestação de informações dos funcionários do clube ao Ministério Público. O relatório ainda revela que a empresa não foi encontrada no endereço indicado nos registros.
- Não obtivemos relatório ou qualquer outra evidência da prestação deste serviço. As pessoas do setor contábil por nós entrevistadas desconhecem qualquer prestação de serviço por parte desta empresa. (...) Adicionalmente, através do seu departamento jurídico, o Esporte Clube Bahia procurou localizar a Dicon Contabilidade S/C no endereço indicado nas notas fiscais e no cartão do CNPJ, porém a empresa não foi localizada – aponta o texto.
Já a Projtec recebeu, segundo a auditoria, 17 pagamentos entre 7 de dezembro de 2012 e 1º de julho de 2013: juntos, os desembolsos totalizaram R$ 335,3 mil. O relatório destaca que, por meio das notas fiscais emitidas, é possível observar prestação frequente de serviços para o Bahia – que nunca foram testemunhados pelo responsável pelo Fazendão.
- Através da sequência numérica das notas fiscais indicadas no quadro acima, fica evidente a suposição de que a empresa trabalhou concentradamente para o ECB no período de novembro de 2012 a junho de 2013. Contudo, o gerente operacional do Fazendão, Sr. Claus Dieter, informou desconhecer qualquer prestação de serviço desta empresa no Fazendão, não sendo por nós obtida qualquer evidência da prestação deste serviço – diz o documento.
A Performance destaca que todas as notas fiscais da Projtec foram emitidas manualmente, prática proibida desde 1º de novembro de 2010. A partir daquela data, todas as empresas estavam obrigadas a realizar a emissão de nota fiscal eletrônica. Mais uma vez, no endereço em que estava registrada a Projtec, não foi encontrado nenhum vestígio da empresa.

O ex-presidente Marcelo Guimarães Filho diz que vai buscar as provas de que todos os serviços pagos pelo Bahia foram realizados e afirma que a divulgação do relatório é uma tática da nova gestão para mudar o foco dentro do Tricolor.
- Todos os serviços ocorreram com certeza absoluta. O engraçado é que eu estou sendo acusado sem provas. É sempre a mesma coisa: quando o time está mal, eles inventam uma acusação sobre mim para tirar o foco da incompetência deles. Todo ano, contratávamos empresas para fazer auditoria. Lembro da Bússola em 2011 – afirmou ao jornal A Tarde.mais pagamentos sem recibos
Como no relatório de auditoria divulgado no ano passado, a Performance voltou a encontrar o pagamento de diversas despesas sem as devidas comprovações. O documento destaca ainda o pagamento de adiantamentos de salários, feitos em dinheiro, sem assinatura da gerência ou diretoria financeira. Os recibos continham apenas uma assinatura do setor financeiro. Como exemplo, o relatório aponta adiantamentos realizados a Ruy Accioly, então presidente do Conselho do Bahia, e pagamento de parte do salário de Roberto Passos, então supervisor de futebol do clube, entre outros registros.
suposta dívida com carlos leite
No relatório da Performance há o registro, ainda, de empréstimo ao Bahia realizado pelo empresário Carlos Leite, que agencia cerca de 90 jogadores. Na gestão Marcelo Guimarães Filho, o agente teve vários de seus atletas contratados pelo clube, levantado suspeitas de parte da torcida. Em 2011, foram sete jogadores agenciados por Leite incorporados ao plantel tricolor: entre eles, o atacante Souza, o meia Lulinha, Boquita, e o zagueiro Titi.
O relatório aponta um empréstimo de R$ 650 mil realizado por Leite ao Bahia, em depósito feito no dia 8 de julho de 2013 na conta do Tricolor. No dia seguinte ao depósito, o clube devolveu à conta do empresário o valor de R$ 570 mil. Os R$ 80 mil sobressalentes não tiveram o pagamento registrado.
- Até a finalização dos nossos trabalhos em campo, a diferença de R$ 80 mil encontra-se pendente de pagamento.
'VAMOS BUSCAR RESSARCIMENTO', DIZ GERENTE JURÍDICO
Em contato com o GloboEsporte.com, o gerente jurídico do Bahia, Vitor Ferraz, afirmou que o clube vai buscar o ressarcimento dos valores desviados, caso as infrações sejam confirmadas pelas investigações. Segundo ele, no entanto, é necessário que o assunto seja avaliado e passe pelo crivo do Conselho Deliberativo.
- É preciso que a câmara setorial jurídica encaminhe ao Conselho o pedido de entrada deste tópico na pauta da reunião, o que acredito que seja feito. Primeiro, vamos submeter o documento à câmara setorial jurídica do Conselho Deliberativo do clube para apuração. A partir daí, vamos tomar medidas internas, já que se trata de possíveis infrações de associados e dirigentes do clube, e vamos adotar as punições previstas no estatuto do Bahia, que podem gerar até a exclusão do associado. Nós já encaminhamos isso ao Ministério Público e vamos, se persistirem os indícios de infração, tomar as medidas judiciais para buscar o ressarcimento desses valores aos cofres do clube. Vamos entrar com um processo para buscar esse ressarcimento – garantiu Ferraz.
A próxima reunião do Conselho Deliberativo está marcada para o dia 22 deste mês. Durante o encontro, deve ser apresentado o relatório gerado pela Performance para avaliação. Na ocasião, há a expectativa de que o clube também apresente os nomes de profissionais da imprensa que costumavam receber dinheiro do Tricolor para evitar críticas à agremiação.Autor: ,postado em 15/02/2014
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