Crise na ginástica assusta Zanetti: 'Às vezes, dá vontade de chutar o balde

Arthur Zanetti e seu técnico, Marcos Goto, observaram de longe o polêmico anúncio do fim da equipe de ginástica do Flamengo. Ouviram as explicações, leram as declarações e lamentaram. Depois da conquista do ouro nas argolas nos Jogos Olímpicos de Londres, mestre e pupilo esperavam uma evolução estrutural do esporte no país rumo a Rio 2016. Foram pegos de surpresa ao constatarem que, na verdade, o panorama é de crise. Com a falta de investimento e perspectiva, o campeão olímpico admite que, às vezes, a vontade é de desistir.
- A gente esperava (um caminho mais fácil). Depois da medalha olímpica, não tem como ultrapassar mais. Não existe. Pensamos que fôssemos chegar e ficaria mais fácil, que teríamos algum patrocínio, mas acabamos não tendo. Tenho apenas os dois que já estavam comigo. Algumas vezes, dá vontade de chutar o balde, mas enquanto meu técnico aguentar, vou aguentar junto com ele – disse Zanetti.

Goto é mais radical. No abafado ginásio onde treinam, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, as falhas de estrutura são evidentes. Alguns aparelhos estão desgastados, faltam equipamentos de estudo e o local se torna pequeno diante de tantos alunos. Na última semana, o treinador recebeu a visita de Ricardo Leyser, Secretário Nacional de Esporte em Alto Rendimento. Ouviu promessas e algumas garantias de que a situação vai melhorar. O técnico, no entanto, não parece muito animado.
- Estamos em março. Eu esperava que fosse treinar no paraíso. Eu esperava um ginásio novo, um centro de treinamento, um local digno para treinar. E foi só conversa, só ilusão. Tapinha no ombro, eu tenho de todo mundo. Vamos esperar, ver se vai concretizar. Mas, tapa no ombro e promessas, eu tenho um monte. No Time Brasil, o Arthur ganhou uma academia de musculação. Nós estamos esperando até agora a prefeitura fazer um mezanino para colocar os aparelhos. Os aparelhos estão comprados, mas cadê o mezanino? Você fala com um, ele diz que já vai sair. Fala com outro, que pergunta se ainda não saiu. É complicado. Tem hora que eu tenho vontade de chutar o balde, falei isso para o Arthur. É muita demagogia.
O fim da equipe do Flamengo foi um baque a mais. No início da semana, a diretoria rubro-negra alegou não ter condições de manter seus ginastas e dispensou nomes como Jade Barbosa e os irmãos Diego e Daniele Hypolito. Com o fim do apoio de um dos maiores clubes do Brasil, Zanetti se mostra preocupado com o caminho da ginástica até 2016.

(Foto: João Gabriel Rodrigues)
- Isso com certeza me pegou de surpresa e desanimou. É um clube grande, com atletas excelentes e, do nada, eles não têm mais clube. Onde eles vão treinar? Isso nos deixa chateados porque o Brasil já não tem muitos ginastas, não tem uma tradição. Cada vez que passa, os clubes vão diminuindo ainda mais a possibilidade de termos mais ginastas. Isso acaba sendo ruim para a ginástica no Brasil. Isso me preocupa. São atletas de seleção e não têm onde treinar.
Goto acredita que a decisão da diretoria rubro-negra evidencia uma crise ainda mais ampla na ginástica nacional. Para o treinador, poucos clubes têm condições de manter o investimento durante todo o ciclo olímpico.
- O que aconteceu com o Flamengo é uma lição para o país. Isso acaba mostrando a fragilidade que todo mundo tem. Porque isso existe em mais de 90% dos clubes. Chega um momento que acaba o fôlego e não tem como manter o trabalho. Acho que é a hora do esporte brasileiro conseguir enxergar que as coisas não estão legais. Querer ficar entre os dez melhores em 2016 é legal, é um objetivo. É bom ter objetivos. Mas chegar é complicado, tem uma série de outros fatores. E um dos fatores é esse: os clubes vão aguentar? E se quebra outro clube? Onde os atletas vão treinar? Vai chegar uma hora que o mercado vai saturar de atletas sem ter onde treinar.
Zanetti tenta manter as esperanças. Embora o panorama não seja dos melhores, o campeão olímpico se força a acreditar que o país tem condições de evoluir rumo a 2016.
- Eu sempre penso ao máximo positivamente. Eu sou otimista, espero que mude. Vários campeões olímpicos falam que conseguir uma medalha olímpica é difícil. Mas se manter no topo é ainda mais. É o dobro. Eu espero um ginásio novo, uma estrutura melhor, para que seja um pouco mais fácil buscar esse segundo título.

Autor: ,postado em 09/03/2013
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