De motorista a amuleto: conheça Adherbal, o 'faz tudo' do Bahia

Os fatores que geraram a arrancada do Bahia no segundo turno da Série A do Campeonato Brasileiro não vêm apenas de dentro do campo. Fora dele, há uma coincidência que tem deixado os jogadores ainda mais confiantes quando embarcam no avião para jogar uma partida longe de Pituaçu. Como não poderia deixar de ser, a superstição tem sido a tônica do time na segunda metade da competição. E, no Fazendão, ela atende pelo nome de Adherbal Amaral.
Assistente administrativo do clube, Adherbal é daquelas figuras queridas por todos. Os cabelos brancos demonstram a experiência no futebol. O sorriso no rosto expõe a boa vontade e a felicidade a todo o momento. Alegria que contagia quem passa pelo Fazendão e que tem dado um resultado extraordinário para o técnico Jorginho.
Dos 75 anos de vida, ele tem 20 dedicados ao serviço no Bahia. O reconhecimento gerou até uma sala batizada com o nome dele na sede do clube. Normalmente, Adherbal trabalha somente em Salvador, mas, neste segundo turno, decidiu viajar com a delegação. A estreia deu sorte. O Bahia fez a melhor partida fora de casa e goleou o Vasco da Gama por 4 a 0 em São Januário. Com ele junto com os jogadores, o Bahia perdeu apenas para o Internacional.
- Não sei se ele queria acompanhar a gente no jogo ou passear no Rio de Janeiro, mas deu certo – brinca o zagueiro Lucas Fonseca.

De bom humor, Adherbal está sempre no CT do Bahia (Foto: Raphael Carneiro/Globoesporte.com)
Após a série de bons resultados, um fato fez com que a equipe passasse a semana preocupada. Por causa de um compromisso na segunda-feira Adherbal disse que não viajaria com o elenco. Os jogadores fizeram de tudo para demovê-lo da ideia. No último instante, a pressão surtiu efeito.
- Me revoltei. Os jogadores pediram para que eu viajasse, e Paulo Angioni (gestor de futebol do Bahia) disse: 'É melhor você ir'. Então eu vou. Mas isso é só psicológico, rapaz – diz o assistente administrativo.
- Tem um cara [Adherbal] que estava falando que estava suspenso e não iria viajar. Ele não vai abandonar a gente, não. Ele não consegue. Todo mundo tem um carinho muito grande por seu Adherbal. Ele foi a primeira pessoa que me recebeu no Bahia. A primeira impressão que tive foi a melhor possível – lembra Lucas Fonseca.
Companheiro para todas as horas
Não é só pelo pé quente que o motorista é tão querido. No clube, ele é uma espécie de ‘faz tudo’: atua como conselheiro pessoal a guia turístico. Se alguém precisa de alguma coisa em Salvador, basta pegar o telefone, discar o número de Adherbal e lá estará ele para atender com o mesmo sorriso no rosto.
- Nem eu mesmo sei minha função. Só sei que eu faço muita coisa. Já teve até caso de levar mulher de jogador para ter filho quando ele estava viajando - relembra o funcionário do Bahia.

O assistente administrativo acompanha os jogadores
dentro e fora de campo (Foto: Raphael Carneiro/
Globoesporte.com)
A boa vontade contagiou até Renato Gaúcho. Em uma determinada noite, o treinador ligou para o amigo e pediu que ele fosse visitá-lo com urgência. Sem pestanejar, Adherbal deixou sua casa de madrugada e foi para a residência do técnico. Chegando lá, o ex-jogador disse que o motivo da ligação era a solidão e afirmou que precisava de alguém para fazer-lhe companhia.
A relação com o treinador que passou pelo Bahia em 2010 era tão estreita que Adherbal tinha um quarto próprio na casa de Renato Gaúcho. Como o Tricolor concentrava em um hotel localizado no mesmo condomínio da casa do ex-jogador, eles passaram diversas noites jogando papo fora nas vésperas das partidas.
No atual elenco, Adherbal mantém proximidade com alguns atletas e membros da comissão técnica. É ele quem ensina o caminho dos locais da capital baiana para os jogadores e suas esposas. É ele também quem dirige constantemente para o técnico Jorginho - aonde quer que ele vá.
- Seu Aderbal é um marco no Bahia. Vai ter o Bahia antes de Seu Adherbal, com Seu Adherbal e depois de Seu Adherbal. Nós temos um carinho e um respeito maravilhoso por esse cidadão. Ele que me comanda. Quando eu preciso de alguma coisa eu falo: “Seu Adherbal, por favor, me socorre. Meu rei, faz alguma coisa”. Ele é uma benção que Deus colocou em minha frente – afirmou o treinador, que costuma chamar o motorista de ‘Meu Rei’ e levou a realeza às lágrimas com os elogios durante a entrevista.
Embaixador Tricolor
Enquanto Jorginho chama o assistente administrativo de Meu Rei, os jogadores têm outro apelido carinhoso. Por Adherbal fazer todas as funções, seja em Salvador ou nas viagens recentes, ele tem sido chamado de Embaixador do Bahia. Onde o clube estiver, quando alguém precisa de alguma coisa, os atletas pedem primeiro para que a permissão seja dada pelo embaixador.
Essa amizade normalmente começa nos primeiros passos dos contratados na capital baiana. Adherbal é o responsável por recepcionar e pegar os reforços no aeroporto. Normalmente é com ele que o jogador ou técnico tem o primeiro contato com a cidade. Por essa função, muitas contratações foram descobertas por jornalistas pela simples presença dele no aeroporto. Mas, como bom embaixador, ele nunca revela quem chega e qual motivo o motivo da visita. O segredo de estado é sempre mantido.
- Quando eu cheguei, ele estava de férias e até briguei com ele: 'Pô, Adherbal, não foi me buscar no aeroporto' (risos) – afirma Lulinha.
Com a alegria contagiante e o pé quente nas últimas rodadas, o elenco garante que Aderbal fará falta na viagem para Curitiba. Mas, para ele, acima de dar sorte ao time dentro de campo, o importante é servir e demonstrar aos jogadores que eles têm alguém com quem contar no TricolorAutor: ,postado em 13/10/2012
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