O número sete na camisa não é à toa. Martine Wright faz questão de exibir no peito e nas costas, para todo mundo ver, que ela venceu. Não em quadra, onde a Grã-Bretanha perdeu todas as quatro partidas realizadas no vôlei sentado nos Jogos Paralímpicos de Londres. Muito mais do que isso. Essa britânica, que completa 40 anos no próximo dia 30, é a personificação da volta por cima de um país após um dos maiores traumas de sua história. Wright é sobrevivente do atentado terrorista que explodiu bombas em três vagões de metrô e um ônibus há sete anos, no dia 07/07/2005.

- A escolha foi proposital. Tenho muito orgulho de vestir a camisa sete e posso dizer que se tornou o número da sorte na minha vida. É uma prova também de que eu superei tudo isso. É um sonho estar aqui.
Sonho que Martine Wright idealizou como torcedora, um dia antes da tragédia que mudou sua história. No dia 6 de julho, a diretora de marketing saiu para comemorar com amigos a escolha de sua cidade natal como sede dos Jogos Olímpicos. A comemoração invadiu a madrugada e dormir até mais tarde do que de costume fez com que ela mudasse o trajeto normal até o trabalho na manhã seguinte. Foi quando cruzou o caminho de Shehzaad Tanweer.

Martine em ação: camisa 7 da equipe britânica faz
o bloqueio durante partida (Foto: Getty Images)
A poucos metros da hoje atleta paralímpica, o terrorista acionou, às 8h50m, a bomba que explodiu entre as estações de Liverpool Street e Aldgate, na Linha Circular do metrô londrino. Mais três completariam a ação no mesmo horário, causando 52 mortes e deixando 700 feridos. Desses, o destino reservou um papel especial para Martine. Após sete anos de traumas, preocupações extremas com a segurança e uma desconfiança evidente, Londres voltou a se abrir para o mundo pela primeira vez para realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. E a jogadora é um ícone natural dessa libertação.
Até ser ovacionada cada vez que pisa na quadra do Centro Excel, porém, Martine Wright travou longa batalha para se manter viva. Ainda na estação, um torniquete realizado por uma policial impediu a morte por conta de 80% de sangue perdido. Mas, a amputação das duas pernas acima do joelho, foi inevitável, e trouxe consigo um período de 10 meses de intervenções cirúrgicas constantes.
Já recuperada, a britânica ouviu de sua fisioterapeuta histórias das competições para amputados do Hospital de Stoke Mandeville, onde nasceu, em 1948, o movimento paralímpico. O interesse foi imediato, e a primeira opção foi o tênis em cadeira de rodas. O individualismo da modalidade e a dependência da cadeira, no entanto, a fizeram buscar no vôlei algo primordial para consolidar sua recuperação: a liberdade.
- Quem não conhece a modalidade pode achar que usamos cadeiras de rodas, mas não. Não usamos. Somos nós, nosso corpo e o chão. Preciso apenas dos meus braços para jogar. É como uma libertação.

E o vôlei é apenas parte do novo mundo que se abriu para Martine sete anos atrás. Com o cargo de diretora de marketing de uma empresa restabelecido, ela se aventurou também no esqui e paraquedismo, além de comandar campanhas em prol das vítimas daquele dia 7 de julho. Realidade inesperada, mas empolgante, e que teve o ponto alto no desfile pelo Estádio Olímpico há uma semana.
- Tudo tem sido fantástico. É uma experiência única na vida. É realmente uma realização. Um dos momentos mais importantes para mim foi na Cerimônia de Abertura. A sensação é que estava concluindo um ciclo que teve início naquele 7 de julho. Sinto o prazer de representar o meu país no esporte que eu amo. São momentos de muito orgulho.
Orgulho compartilhado por toda Grã-Bretanha, que tem na imagem de Martine Wright a certeza de que, sete anos depois, reencontrou a paz.