Fuga, esmolas e (quase) suicídio:

A caminhada do camaronês Cyrille Tchatchet II até sua estreia nos Jogos de Tóquio, , por pouco não foi interrompida. Há sete anos, o levantador de peso, um dos 29 competidores do time de refugiados nesta edição da Olimpíada, andou à beira de um penhasco para colocar fim à própria vida. Depois de fugir do país natal e viver nas ruas britânicas, o atleta de 25 anos é o único baseado no Reino Unido a competir no Japão e deu a volta por cima com a ajuda do esporte e dos estudos.
De sem-teto e suicida aos Jogos de Tóquio
Depois de representar Camarões nos Jogos da Commonwealth de 2014, na Escócia, Cyrille fugiu da base da equipe camaronesa e foi parar nas ruas de Brighton, na Inglaterra. Após mais de dois meses vivendo debaixo de uma ponte longe da sua terra natal, o atleta, que dependia de esmolas, ficou sem dinheiro para comprar água ou comida. Foi quando pensou que tirar a própria vida seria o caminho mais fácil para encerrar o sofrimento.
Naquele momento, aos 19 anos, o atleta não conseguiu desfrutar a experiência de competir na Escócia, quando terminou em quinto lugar no levantamento de peso masculino de 85 kg. Mesmo anos depois da fuga, evita falar sobre os motivos que o fizeram deixar Camarões, país onde ainda vive sua família, incluindo seus cinco irmãos.
Cyrille chegou ao fundo do poço. Sem conhecer ninguém no novo país, pensou que não tinha mais para onde correr, a não ser para a beira de um penhasco. Decidido a tirar a própria vida, o camaronês encontrou a ajuda que procurava minutos antes do que poderia ser o fim da sua jornada. Uma placa com um telefone serviu de sinal para o atleta, que discou o número estampado e foi persuadido pelo atendente, que o manteve na linha até a chegada do socorro.
Duas viaturas da polícia chegaram ao penhasco minutos depois. Levado sob custódia, Cyrille conversou com um advogado na delegacia e teve seu pedido de asilo iniciado, mas foi apenas quase dois anos depois que sua permissão para ficar no Reino Unido foi concedida. Com a saúde mental prejudicada e fazendo uso de antidepressivos, o atleta olímpico viu no levantamento de peso uma forma de também vencer a depressão.
Logo voltou a competir e em alto nível. Tornou-se campeão britânico de 94kg e 96kg, quebrou vários recordes nacionais e ganhou o apoio do Comitê Olímpico Internacional. Agora o camaronês quer mais do que o asilo. Em 2022, ele solicitará a cidadania do Reino Unido, já que está no país há seis anos desde que recebeu o status de refugiado, e espera começar a competir pela equipe da Grã-Bretanha. Cyrille é cogitado para integrar a equipe da Inglaterra nos Jogos da Commonwealth em Birmingham, no próximo ano, caso o documento seja aprovado a tempo.
Mas não foi só no esporte que Cyrille se reencontrou. O socorro que chegou com o quase suicídio o inspirou além da recuperação. O camaronês se formou em enfermagem de saúde mental pela Universidade de Middlesex e agora se dedica a ajudar outras pessoas com problemas similares aos que enfrentou. A formação acadêmica é mais um sonho realizado depois que precisou desistir do curso de Geografia na Universidade de Yaoundé, na sua terra natal.
Agora ele tem outros objetivos para riscar da lista. Sete anos depois da fuga de Camarões, Cyrille chega aos Jogos Olímpicos de Tóquio. A prova do levantamento de peso masculino de 96kg.
Autor: ,postado em 30/07/2021
Comentários
Não há comentários para essa notícia