Estudo da Fiocruz Bahia testa assintomáticos nas ruas

A imagem que se costuma ter dos infectados pela variante gama do coronavírus, ou P1, é a de pessoas em agonia, nos leitos de UTI. Ela está por trás da onda devastadora da pandemia neste ano no Brasil, mas não foi com os doentes que se espalhou. A gama se dissemina velozmente porque faz enorme quantidade de assintomáticos, gente que nem sabe que carrega o vírus, mostra pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz/Bahia e da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA).
O trabalho evidencia que o uso de máscara, cuidados de higiene e de distanciamento são cruciais para o controle da pandemia. A gama circula sem sinais nas multidões e isso dá eficiência à propagação.
Foram analisadas amostras de 1.400 pessoas escolhidas ao acaso na multidão que circula pelas duas praças mais movimentadas e o sempre cheio mercado popular de Feira de Santana. Com 619.600 habitantes, a cidade é a segunda mais populosa da Bahia e a primeira em população do interior do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.
— Esperávamos encontrar 5%, o que já seria elevadíssimo. Mas esse percentual deixa evidente que essa variante fez a pandemia explodir porque é extremamente transmissível. Como muitos dos infectados não adoecem, eles espalham sem saber o vírus que, como nosso gigantesco número de mortos e doentes deixa patente, acaba por encontrar também pessoas mais vulneráveis. É assim que se move a pandemia no Brasil — diz o coordenador do estudo, Luiz Carlos Júnior Alcântara, pesquisador titular da Fiocruz/Bahia e professor colaborador da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UEFS.
Os cientistas entrevistaram pessoas ao acaso e testaram as que disseram nunca ter tido Covid-19. Em hospitais, seria esperado ter um número considerável de infectados, mas não nas ruas, em pessoas aparentemente saudáveis. Mas das 1.400 testadas com RT-PCR, 154 estavam positivas.
O estudo foi realizado de 8 de abril a 18 de maio e as pessoas positivas foram acompanhadas por duas semanas. Somente 5% delas apresentaram sintomas, e muito leves.
— Vimos que a maioria das pessoas positivas simplesmente não desenvolveu sintomas de Covid-19 — frisa Alcântara, especialista em vigilância genômica e epidemiologia molecular.
Quase todas as pessoas positivas durante toda a infecção permaneceram sem sintomas e teriam espalhado o coronavírus, caso não tivessem sido testadas. A falta de testagem no Brasil para identificar e isolar casos ativos é outra das causas da avassaladora dimensão da pandemia no país.
Os cientistas também sequenciaram 122 genomas para investigar que variante havia infectado as pessoas. Só encontraram a gama e uma variação sua, chamada de P1.1.
— O vírus não está confinado no hospital. Ele passa ao seu lado na praça, encontra com você no mercado. Ele pega quem não se protege. No cenário atual, com ritmo lento de vacinação, precisamos demais da máscara, do distanciamento — diz Alcântara.
Autor: ,postado em 22/06/2021
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