Dia Mundial Sem Tabaco

Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)* apontam que 12,6% da população brasileira têm o hábito de fumar. O tabagismo ativo e a exposição passiva à fumaça do tabaco estão relacionados ao desenvolvimento de aproximadamente 50 doenças, entre elas os cânceres urológicos e a disfunção erétil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 70% dos casos de câncer de bexiga estão associados ao fumo.
Neste mês de maio, em que se celebra o Dia Mundial Sem Tabaco, em 31 de maio, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta a população sobre a influência do tabagismo com o câncer de bexiga e amplia a discussão dos efeitos do cigarro para a saúde urológica. A estimativa de novos casos para 2020/2022, de acordo com o Inca, é de 7.590 casos em homens e de 3.050 em mulheres.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – Seccional Bahia (SBU-BA) e chefe do serviço de urologia da Universidade Federal da Bahia, Lucas Batista, embora o número de pessoas que fuma esteja em queda em relação a outros anos, é preciso combater esse hábito que favorece a diversas doenças. As substâncias tóxicas do cigarro, quando inaladas, entram na corrente sanguínea e são filtradas pelos rins e eliminadas pela urina que agridem a parede da bexiga, o que pode danificar células da região.
“Sempre que inalamos os vapores do tabaco estamos absorvendo uma série de substâncias químicas nocivas. Os efeitos das toxinas da fumaça do cigarro que entram no seu corpo são muito estudados, entretanto, devemos também estar atentos a como essas toxinas saem. Muitas delas são eliminadas pelo trato urinário, porém quando a urina está em contato com a bexiga por muitas horas ela pode ser exposta a concentrações muito altas de toxinas da fumaça do cigarro”, explica o urologista.
O câncer de bexiga é o décimo primeiro tumor mais prevalente na população. Este tipo de tumor não costuma apresentar sinais na fase inicial. Uma característica sugestiva para a doença é a presença de sangue na urina. Quando descoberto no início, cerca de 90% dos diagnósticos do câncer de bexiga podem ser curados com uma cirurgia endoscópica. Caso o câncer evolua, pode ser realizado a retirada da bexiga pela técnica robótica. Mesmo assim, a doença pode avançar e, caso se torne metastática, tem uma mortalidade acima de 90%.
Câncer de rim e próstata
O tabagismo também é um fator de risco para o câncer de rim, que, embora no estágio inicial geralmente não apresente sinais, na evolução da doença tem como principais sintomas a dor na parte lateral da barriga e nas costas; sangue na urina; inchaço abdominal; e perda de peso. Além dos riscos já conhecidos como os fatores hereditários, de raça (homens negros) e a obesidade, fumar torna os homens mais vulneráveis ao câncer de próstata.
Segundo uma metanálise (método estatístico utilizado para integrar os resultados de vários estudos sobre uma mesma questão de pesquisa) que reuniu 24 estudos envolvendo mais de 20.000 homens com câncer de próstata, mostrou uma associação do tabagismo com a incidência e com a mortalidade do câncer de próstata. Os fumantes não só tiveram uma maior incidência de câncer de próstata, como câncer do tipo fatal. Os fumantes mais inveterados tiveram um risco até 30% maior de morte por câncer de próstata do que os não fumantes.
Embora os mecanismos não sejam totalmente conhecidos, há vários possíveis, dentre eles que o tabagismo pode aumentar os metabólitos de estrogênio podendo induzir um fenótipo tumoral mais agressivo e, assim, aumentar a morte por câncer de próstata, que fumar pode causar mutação no gene supressor de tumor, criando outra via para um fenótipo tumoral agressivo e aumento da mortalidade.
Disfunção erétil
Um estudo feito por pesquisadores turcos e publicado em 2020 pelo International Brazilian Journal of Urology concluiu que a capacidade de ter e manter a ereção é diretamente proporcional ao nível de exposição ao cigarro e que parar de fumar melhora a função sexual.
A disfunção acontece porque as substâncias nocivas presentes no cigarro afetam os vasos sanguíneos, aumentando a formação de placas nas artérias que dificultam a circulação do sangue para o pênis, e com o passar dos anos há o entupimento dos vasos da região, impedindo que o sangue chegue com força suficiente aos corpos cavernosos a fim de manter a ereção.
Segundo o urologista Lucas Batista, além do entupimento desses vasos que são milimétricos, um outro mecanismo que parece também pode ser afetado é a via do óxido nítrico, uma substância que é uma via-chave no processo da ereção.
O especialista ainda alerta que em tempos de pandemia não fumar é um fator de proteção contra a Covid-19. “O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Além disso, o ato de fumar cigarro, narguilé e cigarros eletrônicos proporciona constante contato dos dedos com os lábios, aumentando a possibilidade da transmissão do vírus entre seus usuários e para a comunidade”, alerta o urologista.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo afeta os pulmões de forma a aumentar o risco de desenvolvimento da forma grave da Covid-19. De acordo com pesquisa publicada no Chinese Medical Journal, fumantes têm 14% mais chances de desenvolver pneumonia por coronavírus.
Autor: ,postado em 20/05/2021
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