Em suas listas, Pia chamou 44 jogadoras e fez questão de testar a equipe. Mas alguns dos nomes saíram na frente na preferência da treinadora e com justificada razão. Atleta do PSG, Luana esteve em 11 partidas com o elenco. Em nove delas, foi titular. Antes da parada em razão da pandemia de Covid-19, vinha sendo o nome da seleção brasileira por sua regularidade, discrição e eficiência em campo. As características impressionaram tanto a técnica, que apostou nela também na lateral direita diante da Holanda no dia 4 de março. Vejo a meia, que também aparece como volante, como uma possível herdeira de Formiga, que, aos 42 anos, se mantém em alta com a técnica. Sempre com a qualidade característica, ela apareceu como titular em todos os jogos que esteve, nove, no total – não foi nos amistosos diante do México por não ser data Fifa e o Paris Saint-Germain não ter obrigação de liberá-la. E ficou evidente: ainda não podemos viver sem Miraildes.
Em grande fase nos Estados Unidos, eleita a melhor da NWSL na última temporada e integrante da seleção da Challenge Cup, encerrada no último domingo, Debinha aparece como artilheira da era Pia com seis gols em 11 jogos, oito deles como titular. O papel dela não se resume em bola na rede. A jogadora passou ser um dos centros de criação da equipe com a bola frequentemente passando pelos seus pés para levar perigo ao adversário. Sua mobilidade em frente à área fez a conexão com outro nome representativo: Bia Zaneratto. A centroavante foi a “dona da Coreia do Sul”quando atuava pelo Incheon Hyundai Steel Red Angels, uma avante que se encaixaria entre os grandes clubes europeus. Mas quando chegava à Seleção, perdia seu brilho em meio a um emaranhado tático. Foi então que Pia assumiu e a fez voar no esquema com a naturalidade de seu grande futebol. Foram 10 jogos, oito como titular e cinco gols marcados. E não só isso. Garantiu posicionamento para o papel de pivô que tão bem faz fora da área e ainda o auxílio às colegas nas assistências.
Nossa rainha Marta esteve em sete jogos sob o comando de Pia Sundhage, a quem conhece tão bem dos tempos de Suécia. Para ela, ainda espero um posicionamento que a coloque mais perto da área. Sua categoria de seis vezes melhor do mundo lhe permite o improviso, o chute qualificado. Para isso, precisa e merece estar ali para que todo o seu diferencial de craque sirva por completo a nosso favor. Ainda temos mais evoluções: Ludmila com sua velocidade característica e agora combinada com o poder de decisão diante das defesas desmontadas, Thaisa com sua segurança no meio. Há nomes que merecem mais testes como Maria Alves, Daiane, a goleira Natascha, e outros que precisam de tempo em campo como Rafaelle, que, em plenas condições, figura como uma das melhores zagueiras do mundo.
Há muitos outros nomes qualificados para integrar o elenco da seleção brasileira. As citadas acima serviram para mostrar que Pia Sundhage foi cirúrgica desde a sua chegada e, ponto a ponto, vai corrigindo nos detalhes para que possamos chegar aos Jogos de Tóquio – adiados para 2021 - em igualdade tática de condições, pois talentos temos muitos no país. Nem o lado psicológico foi esquecido pela treinadora, que pediu à CBF uma psicóloga para trabalhar com o grupo depois de notar dificuldades em momento decisivos – com ela, o Brasil perdeu duas decisões por pênaltis. Pia está atenta. Temos uma bicampeã olímpica conosco. Ela sabe o que fazer. Soube quando iniciou uma renovação até mesmo na fechada seleção americana. Não duvidem que ela terá coragem de fazer o mesmo por aqui. Se sentir a necessidade em seu planejamento a longo prazo, não se furtará em seguir o caminho que acreditar ser o melhor para nossa seleção brasileira.