Frente Informa N. 88 - Dr. Manuel de Lemos fala sobre as Santas Casas brasileira

Com o objetivo de aproximar as relações das Santas Casas de Misericórdias portuguesas e brasileiras, o Dr. Manuel de Lemos, recentemente releito presidente do secretariado nacional da União das Misericórdias Portuguesas e atual vice-presidente da Confederação Internacional das Misericórdias, destacou pontos importantes para consolidação desta relação, mostrando direções a serem seguidas:
01 – Frente a atual crise europeia e a recente devolução dos hospitais para às entidades filantrópicas, como o senhor avalia a situação das Santas Casas em Portugal?
ML: A situação das Santas Casas em Portugal é difícil. É sabido que a maior parte da nossa actividade se situa no domínio assistencial e todos os dias existem mais pessoas em Portugal a procurar ajuda nas Santas Casas. Dito isto, todos em Portugal e na Europa reconhecem que as Santas Casas e o restante sector filantrópico ( que na Europa se designa por "social") são a grande "almofada social" do nosso País. E a devolução dos Hospitais constitui precisamente o reconhecimento pelo Estado, de que as Santas Casas estão do lado da solução e não do lado do problema. Fazer mais com menos e fazer com qualidade tem sido o nosso lema. Em nome das pessoas e por causa das pessoas!
02 – Aqui no Brasil criamos a exitosa Frente Parlamentar de Apoio às Santas Casas. Como encontra-se a relação das Santas Casas portuguesas e o Parlamento? O Setor pensa em também criar uma Frente no Parlamento português?
ML: A criação da Frente Parlamentar de Apoio às Santas Casas constitui uma iniciativa política de um alcance estratégico notável. E o Deputado Antonio Brito e todos os que o acompanharam nesse trabalho são merecedores de todos os louvores. Em Portugal ainda estamos longe de poder alcançar um tal objectivo, embora a recente aprovação por unanimidade da Lei da Economia Social no Parlamento Português, seja um passo decisivo nesse sentido. Como dizem os italianos "piano, piano, si va lontano...."
03 – Qual o sentimento do povo português em relação às Santas Casas?
ML: As Santas Casas estão no Código Genético do Povo Português. Já no séc. XVI se dizia : "Um Português um Padrão, dois portugueses um Abraço, três portugueses uma Misericórdia" . Temos pois um passado de que nos orgulhamos, um presente exitoso, mas somos sobretudo Instituições com muito futuro. Todos os portugueses sabem bem o que são as Santas Casas e todos, num momento qualquer da sua vida, se cruzam, por uma razão ou por outra, com as Misericórdias.
04 – Como está funcionado o programa de cuidados continuados na rede das Santas Casas Portuguesas?
ML: De uma forma geral muito bem, naturalmente com todos os problemas de crescimento inerentes. Mas as Redes de Cuidados Continuados são estruturantes nos modernos sistemas nacionais de Saúde; e Portugal como de resto o Brasil, não podem fugir a esta regra que decorre do aumento de esperança de vida e do desenvolvimento.
05 – Qual o futuro que o senhor enxerga para o intercambio entre as Santas Casas portuguesas e brasileiras, e destas com as demais entidades nos diversos continentes?
ML: Coloco a minha reflexão a dois níveis: entre os dois Países e com os outros. Entre Portugal e o Brasil reconheço toda a importância em reforçar os a nossa colaboração conjunta. E o nosso Presidente Mundial Antonio Brito e eu próprio estamos muito cientes da dessa importância. De fato, temos problemas semelhantes, pese embora a dimensão dos dois Países e ganharemos em percorrer caminhos semelhantes. Por exemplo: como vamos lidar com o Estado na área da Saúde? Como vamos fazer evoluir os nossos Hospitais? O que vamos fazer nos Hospitais de pequeno porte? Como vamos assegurar um financiamento correcto para cumprir a nossa Missão?
Já em relação aos outros Países, nesta fase, a nossa colaboração deve ser, a meu ver, mais programática. Dar a conhecer bem a natureza e identidade das Santas Casas, a nossa Missão ecuménica no sentido que acolhemos todos sem distinção de cor, raça, credo ou rendimentos e da nossa opção preferencial pelos pobres. No momento em que o Mundo tem um Papa oriundo da América Latina, que escolheu o Brasil para a sua primeira deslocação, a nossa Missão ganha esplendor e pode constituir um referencial para um percurso de afirmação da cidadania, da democracia e do desenvolvimento.
Autor postado em 02/04/2013
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