OS CONGESTIONAMENTOS DO TRÁFEGO E A QUALIDADE DA NOSSA VIDA - UMA PROPOSTA

Há muitos anos que os congestionamentos de veículos nas vias públicas das cidades se multiplicam, travando o direito constitucional de ir e vir das pessoas e submetendo-as a um nível de estresse insuportável. É assunto permanente nas emissoras de rádio, televisão e jornais. Nas primeiras, multiplicam-se os programas interativos, onde os motoristas, dos seus celulares informam como anda o trânsito na cidade. Todos os dias, sem exceção, o assunto é motivo de queixas e lamentos nas conversas entre as pessoas. Os engarrafamentos são justificativas inquestionáveis para os atrasos ao trabalho, reuniões e compromissos. Como perde o país, também em termos econômicos, com o excessivo tempo de todos, gasto nos engarrafamentos, fazendo nada, esperando, resignados com um problema que supostamente não tem solução, não depende de nós, e o que de melhor podemos fazer é rezar. Isso sem falar nos danos ambientais causados ao nosso sofrido planeta, que já dá várias respostas da sua zanga conosco.
Os gestores das cidades vão tomando as providências clássicas, porém paliativas: alargamento de vias, construção de viadutos, implantação de semáforos inteligentes, melhoria (?) dos transportes de massa, construção de metrôs - o de Salvador é uma piada, o mais caro do mundo e exemplo perfeito de anti-planejamento! - revezamento de uso de veículos em função do número da placa, transporte solidário, incentivo ao uso de motos, bicicletas (implantação de ciclovias e ciclofaixas), etc., etc., etc.. Merece registrar e lamentar que a ferrovia e o transporte marítimo não são prioritários no nosso país.
Por outro lado, as montadoras se multiplicam, cresce vertiginosamente a produção de veículos melhores e relativamente mais baratos; investem maciçamente em publicidade bombardeado-nos com ofertas imperdíveis, com financiamentos fáceis e redução de juros, tendo como consequência a injeção diária de número significativo de novos veículos, agravando a já caótica situação das cidades.
No que diz respeito ao governo, refém das poderosas montadoras, além dos incentivos fiscais oferecidos para a captação de novas fábricas, a qualquer sintoma de crise no setor, rapidamente providencia, dentre outras medidas, a redução tributária e de juros, a fim de viabilizar a desova rápida dos veículos acumulados nos seus pátios e nas revendedoras. O resultado é que mais veículos ingressam no tráfego das cidades, piorando a situação que de há muito já é hiper crítica e insustentável. E os cidadãos pagando a conta injustamente, com a sua decrescente qualidade de vida e comprometimento da saúde física e mental. Estresse crescente e violência idem.
Admitindo como pressuposto o sentimento unânime da população, de que a situação já passou de caótica, decorrente do excessivo número de veículos, cabe fazer as seguintes e singelas perguntas:
a) por quê, admitindo-se a prevalência do interesse coletivo sobre o interesse individual ou dos empresários, o crescimento do número de veículos nas cidades, não obedece, nem pode obedecer a qualquer limite?
b) nós, cidadãos, vendo a questão agravar-se a cada dia, devemos continuar rezando e aguardando que os gestores da coisa pública encontrem uma solução?
Para não complicar, vamos partir de um raciocínio lógico e simples:
• quando queremos ir a um show, ao teatro, a um jogo de futebol, cinema, dependemos da existência de vaga;
• quando queremos marcar uma consulta médica ou dentária, ou mesmo um exame médico, dependemos da existência de vaga;
• quando queremos ir a um restaurante, nos hospedar em um hotel, viajar de avião, dependemos da existência de vaga.
Por quê o acréscimo de veículos não pode obedecer essa regra simples e universal da existência de vaga?
Por quê quando alguém quer adquirir um veículo, não lhe é perguntado: há vaga na cidade, para o carro que você pretende adquirir? Ou você pretende guardá-lo na rua?
É permitido criar um cavalo ou um cão na rua, em espaço público? Então, por quê um veículo particular pode ser "guardado" nas vias públicas, causando tantos problemas à população como um todo?
A PROPOSTA
Partindo da premissa que as vias públicas existem para permitir que pessoas e veículos transitem, todos os veículos deveriam dormir (ser guardados) em garagens ou vagas localizadas na área internas das casas, edifícios, condomínios, etc., não deveria ser permitido, porque é uma distorção, que os veículos sejam guardados em vias e logradouros públicos.
Objetiva e resumidamente, objetivando estancar o ingresso de novos veículos, fazemos a proposta das seguintes medidas, a ser debatida nas instâncias e instituições pertinentes:
Curto Prazo (Imediato)
• Os DETRANs só licenciarão veículos novos, na hipótese da comprovação, pelo adquirente, da existência de vaga na área interna da sua residência (casa, edifício, condomínio, etc.), onde será guardado o veículo;
• Também só serão feitas transferências de propriedade, na hipótese da comprovação prevista no item anterior.
Médio Prazo
Após cinco anos da vigência da nova regra, tempo suficiente para que os proprietários de carros que dormem na rua deem uma solução, deverá ser proibido terminantemente o uso das vias e logradouros públicos para a guarda de veículos, cuja infração ficará sujeita às penalidades adequadas (multa, reboque, etc.).
A forma adequada e eficaz de comprovação da existência de vaga poderá ser definida oportunamente, no curso das discussões que certamente advirão, na hipótese da aceitação desta proposta.
Concluindo, somos da opinião que precisamos tomar alguma providência urgente, forte e suficientemente eficaz, no sentido de amenizar os problemas diuturnos que nós e o nosso planeta vivemos, paralelamente às medidas paliativas que já são tomadas pelos gestores públicos.
A medida aqui proposta, enfatizo, não é para substituir nenhuma das outras, que continuam necessárias ou indispensáveis. Ela deve ser mais uma a ser adotada, com um objetivo específico: estabelecer limites à capacidade das cidades de "hospedar" veículos.
Se não é esta a proposta a ser adotada, que seja outra, pouco importa. Ou então, aceitemos os fatos e paremos com as nossas queixas. Sejamos felizes e engarrafados!
Salvador, 20 de junho de 2012
Denilson Rehem
http://quebrandoacara.
Autor postado em 22/12/2012
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