A Função do Voto

A função do voto é apenas a de escolher um candidato entre alguns ou constituir a maioria necessária a reconhecer um candidato único. No primeiro caso, vários nomes se apresentam ao eleitorado para que este eleja um ou alguns. No segundo, apresentando-se um único candidato, para que sua eleição seja reconhecida, terá que obter a maioria dos votos válidos. O voto é isso, só isso, nada mais. Ele não acrescenta nada ao eleito. O eleito é e continua sendo o que era antes da eleição. O voto não é um curso preparatório para o cargo que o eleito vai exercer. O eleito leva para o mandato a sua própria experiência. A eleição presidencial de 1989 nada tirou de Mário Covas e nada acrescentou ao Fernando Collor. Ambos entraram na história, cada um pelo lado que merecia. Mário, um exemplo a ser seguido. Collor, uma experiência nefasta. Continuaram os mesmos, um a merecer encômios, o outro para evidenciar o erro do corpo eleitoral. O voto é modo quantitativo de escolha. Não deveria ser assim, mas o controle dos meios de comunicação pelos próprios políticos, o marketing político e a manipulação da vontade popular através de um bem cuidado sistema de manutenção das necessidades básicas do povo, que transformam, na campanha, vinagre em vinho, têm convertido as eleições em um bingo, uma loteria, um par ou ímpar, um jogo de dados. Só que, depois da eleição, o povo verifica que elegeu o vinagre, mas aí já não adianta mais, porque o sistema de governo nosso é presidencialista: o eleito não sai por incompetência, só por desonestidade, às vezes nem assim. Quer dizer, se o povo errar na escolha, tem de ser punido pelo erro tolerando o mandato inteiro. A incompetência do eleito é irrelevante para o exercício do mandato político.
Existem os que acham ser o voto atributivo de qualidades. Dizem: fulano deverá governar bem, afinal teve tantos ou quantos milhões de votos. Tome-se o caso do Enéas Carneiro, o Deputado Federal mais bem votado da história do país. Qual a sua participação na vida pública no exercício do mandato? Dirá ele ou dirão seus defensores: pelo menos não se viu ele envolvido nas falcatruas que grassam no Congresso Nacional. Digo eu: honestidade não é virtude, é dever. Ele trouxe a honestidade dele mesmo, não foi atribuída pelo voto de ninguém. Aliás, todos os que estão lá foram votados. Decência não se adquire, tem-se.
Lá na distante Pojuca, no distrito de Central, na Bahia onde nasci, havia três mulheres notáveis: D. Guiomar aplicava injeção; D. Vicenza rezava e D. Cândida aparava menino. Três sumidades, dignas do maior respeito. D. Guió, como carinhosamente a chamávamos, tinha a mão leve, injeção com ela não doía, salvo algumas terríveis como ozonil para gripe e benzetacil, para inflamações graves. Ela chegava com sua caixinha mágica de metal, cheia de tubos e agulhas, punha no fogo para ferver, pegava a ampola do remédio, dava uns piparotes no pescoço, quebrava-o e punha-o sobre a mesa. Depois ia ao temível aparelho, que se compunha de três partes: a agulha, o tubo e o êmbolo. Punha a agulha no lugar e sugava o remédio para dentro do tubo. Aspergia um pouco para tirar o ar de dentro do tubo. Assim feito, pegava o algodão embebido de álcool, desinfetava o local: os adultos no braço, os meninos nas nádegas, e aplicava suavemente a injeção dizendo palavras de carinho. Terminada a aplicação, massageava o local, recebia os agradecimentos da família, recolocava o material no aparelho e ia embora.
Autor postado em 20/12/2011
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